Avatar: quando a técnica suprime a narrativa - Víctor Graecus

1/11/2023

Avatar: quando a técnica suprime a narrativa

 Avatar: quando a técnica suprime a narrativa

        Avatar é uma saga interessante. Por várias aspectos. Muitos deles todos sabem: a revolução tecnológica que os dois filmes trouxeram; a direção de arte impecável, que criou um mundo muito diferente de tudo que estamos acostumados; as atuações numa realidade que não era tão comum, com as roupas de captação de movimento, entre outras coisas. Porém, ela se destaca por um aspecto que pouco vejo ser comentado: é uma série que não tem fãs.

        Claro, quando eu digo não tem fãs, não quero dizer que não existe um único ser humano na face da Terra que ama Avatar. O que eu quero dizer é que não existe uma grande comunidade. Não vemos brinquedos da séries sendo vendidos, não vemos vários spin offs aleatórios, não vemos jogos e fanfics. COMO QUE NÃO VEMOS FANFICS? Esse é o primeiro passo de uma fanbase.

        A primeira e única vez que vi, na verdade ouvi, alguém falando sobre foi no Nerdcast de Avatar : o Caminho da Água lançado logo após a estreia do segundo filme. E a ideia desse texto é debruçar toda minha falta de conhecimento numa leitura superficial sobre o tema. Algo que inclusive eles não entraram muito durante o episódio.

        Pois bem, Avatar 2 foi lançado no final do ano passado. É um filme longo, do jeitinho que eu gosto, quase monótono para criar o mundo (numa escola R.R. Tolkien de ser). É um filme denso que possui muitas qualidades, mas é fato que também quase a mesma quantidade de defeitos. Por conta disso, acredito que uma discussão sobre a qualidade do filme é válida antes de falarmos sobre a série como um todo. Assim, indico tanto o Nerdcast já linkado quanto a crítica do Gaveta no YouTube, onde ele passa por vários pontos. Não concordo com todos, mas um bom início. 

        Agora voltemos: Avatar não tem fãs. E isso é estranho porque quantas são as séries que você conhece sem fanbase forte? De Velozes e Furiosos a Senhor dos Anéis, de Harry Potter a Transformes, toda série possui uma base pelo menos para justificar os investimentos dos estúdios. Mas quais seriam os motivos para isso? Onde estão essas pessoas?

        Acho que tudo começa em como nasceu o filme. Avatar é sim um universo incrível e muito bem criado, mas o primeiro filme não nasceu para contar uma história. Ele nasceu para duas coisas: mostrar para o planeta esse novo mundo e revolucionar o cinema. Avatar não nasceu pela narrativa, ele nasceu pela tecnologia e quase por um show off. Isso me parece importante porque em um primeiro momento pode afastar um pouquinho o público dos próprios personagens. Eu não estou tentando te envolver na minha história, não estou tentando te passar uma moral. Eu só quero fazer tudo redondinho, nesse roteiro clichezão e mostrar a incrível tecnologia que tenho nas mãos (e o universo incrível por trás).

James Cameron, diretor de Avatar

        Dito isso, esse é o ponto de partida mas longe de ser o principal problema. O próprio Senhor dos Anéis que citei anteriormente nasceu do Tolkien ter tido a brilhante ideia de criar um idioma. O idioma veio antes da história, não era o foco. Mas daí também a história foi muito além do comum. E aí entra o segundo ponto.

        O roteiro não arriscou. Veja bem, o universo criado é incrível. A direção de arte, a concepção desse mundo, tudo muito fora da caixa. Mas dentro das próprias regras do universo, nós tivemos um filme de aventura ok. Isso não é um problema se eu estou fazendo um único filme fechadinho comercial água com açúcar. É evidente que vira um problema se eu vou prolongar esse universo.

        Convenhamos o que mais difícil já havia sido feito, que era conceber o mundo. Depois disso, infinitas possibilidades surgiram. Mas não só o roteiro foi bem fechadinho e sem muitas surpresas no primeiro filme, como no segundo filme foi uma história sem pé nem cabeça COM O MESMO VILÃO num cenário mais clichê ainda. Só que agora com um plot ruim.

        E aqui está o diferencial de muitas dessas séries com legiões de fãs: é Luke eu sou seu pai, é porta atravessando parede em estação de trem, é deuses gregos no Empire State Building. O mundo já tinha sido criado e criatividade veio depois. Veio com algo a mais. Isso marca.

        Falando em marcar, em 2018 fiz um vídeo para o YouTube chamado O que faz uma obra ser marcante? em que defendia que para uma obra ser marcante ela deveria te tocar de alguma forma. Ela precisaria, obrigatoriamente, trazer algum nível de identificação para quem a consumia. Eu não concordo mais com isso, e a linha argumentativa desse vídeo é ridícula (eu tinha 17 anos, então passarei esse pano para mim), mas isso também falta em Avatar. No máximo você consegue se identificar com algum senso de defesa do meio ambiente, com o sentimento de maternidade. De qualquer forma não temos personagens se destacando muito.

        A esse ponto acredito que você já entendeu que dá para continuar puxando vários possíveis motivos para que Avatar não ter alavancado uma legião de fãs. Eu poderia dizer só que a série não é tão carismática também. Só não inspira o coletivo a engajar.

        Porém, a verdade é que Avatar deixou o lado técnico na frente da arte de narrar uma história. O hype da maior bilheteria da história, de um dos melhores diretores vivos, das inovações tecnológicas, tudo isso ofuscou a história em si. Tudo isso tirou o peso do que mais importa. E diante disso, em meio à tanto potencial, diante de um universo incrível, de atores ótimos em mãos, de todo o dinheiro de Hollywood, tivemos um possível flop no segundo filme e uma série passível de esquecimento.

        Ainda assim, espero ansiosamente pelo terceiro filme. Espero que todo o potencial seja explorado ao máximo e o universo fora de série esteja acompanhado de uma história inesquecível. Aguardaremos cenas dos próximos capítulos (literalmente).

***

        Mas eaí, o que você acha? Você concorda? Discorda? Comenta aí embaixo e compartilha com os amigos. Até a próxima.

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