O Espião Inglês: estão usando demais o Cumberbatch - Víctor Graecus

11/28/2021

O Espião Inglês: estão usando demais o Cumberbatch

O Espião Inglês: estão usando demais o Cumberbatch

        Bennedict Cumberbatch é para mim um dos, se não o maior nome da atuação dessa geração. Tanto no teatro interpretando Hamlet, quanto na TV em Sherlock e no cinema com diversos títulos (ganhadores de Oscar e agora no fenômeno de bilheteria que são os filmes da Marvel), eu acho o trabalho impecável. MAS, mas... ultimamente parece que ele está em todo lugar. E talvez aceitando uns papéis que não sejam dos melhores.

        O Espião Inglês (The Courier) conta a história real de Greville Wynne, um vendedor britânico que foi convocado em meio à Guerra Fria para ser um espião do ocidente em Moscou. Greville então passa a fazer viagens frequentes à capital russa, onde consegue com Oleg Penkovsky informações sigilosas que, entre outras coisas, garantem o fim da crise dos mísseis de Cuba (episódio que ocorreu em 1962). O longa dirigido por Dominic Cooke, um cineasta também britânico, tem pouco menos de duas horas e está disponível na Amazon Prime.

        Ok, nesse cenário qual é o problema da escolha do papel pelo Benedict Cumberbatch? Não achei o filme especialmente ruim. Ele é um filme ok. Em um gênero já bem saturado, que é o dos espiões, é interessante ver a visão britânica da história e não só a americana de sempre. Claro que essa visão não é muito diferente nos dos países, e os russos são traçados aqui como grandes vilões, com a KGB representando o lado mal. Oleg é aquela alma que notou a perversidade do seu governo e está tentando quebrar o sistema de dentro. Basicamente, é o de sempre.

        O que me pega é que The Courier é um filme superficial, até um pouco genérico. O vendedor é o grande herói, Oleg salvou todo mundo, eles criaram uma amizade... é o de sempre. E, pelo menos para mim, Benedict Cumberbatch não é o ator que faz os papéis de sempre. Os próprios exemplos que eu dei aqui todos são de personagens super profundos e complexos, cada um a seu jeito. Sherlock com sua mente surpreendentemente complexa não é só um gênio, ele é um viciado que briga com seus vícios e busca desesperadamente qualquer tipo de âncora na realidade que vive sem amigos e sem se sentir parte de qualquer grupo que tenha vivido. Hamlet vive o maior dilema de traições da história do teatro global. Stephen Strange é um médico genial que baseava toda sua personalidade nisso e perdendo a capacidade de exercer essa profissão teve que mudar tudo que sempre acreditou, saiu da magia para a ciência e passou a compreender o mundo como relativo à cada realidade.

        E aí vem o Greville: que é o herói nacional, e só isso. Sem profundidade nenhuma. Na base da emoção do salvador por isso mesmo. Um pouco decepcionante.

Greville e Oleg em atos de espionagem

        Mas não só de decepção é feito o filme. O enredo é bem fechadinho, com três atos distintos. Nos primeiros minutos entendemos toda a situação que o filme está se passando. Em meio à guerra fria o ocidente precisa de alguém que não dê muita pinta de espião para a KGB, o Greville aproveita a chance de ganhar um dinheiro e fazer bem ao seu país e Oleg precisa desesperadamente desmontar o regime que está vivendo por notar o mal que faz ao seu povo.

        No segundo ato, Greville passa a criar uma boa amizade com Oleg, ambos conhecendo a família um do outro. O nosso herói passa a ficar cada vez mais envolvido com a espionagem e seus achados o tornam a maior fonte de informações do ocidente.

        O terceiro ato, e a conclusão do filme, é o momento em que o governo russo descobre tudo; e aí Cumberbatch brilha. Nas tomadas em que a câmera fecha em seu rosto vira um show de interpretação. Ele se destaca de todo o resto do elenco durante seu período na prisão. Chama atenção também a mudança física que o personagem passa no trecho final. Tudo é feito no tom certo e passa bem a dor que o personagem está disposto a aguentar para sair dali.

        Ao fim, o filme encerra e mesmo que eu não sinta que minha vida mudou - que essa foi uma obra prima -, não foi tempo perdido. Embora com um ator do nível que o diretor tinha no elenco isso seja, novamente, bem decepcionante.

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